Nova denúncia do MP sobre GAS Consultoria mostra papel de empresária como operadora do dinheiro

Eliane Medeiros de Lima é apontada pelo Ministério Público como o braço financeiro do grupo criminoso que comandava a GAS Consultoria

No dia 11 de março, o Ministério Público do Rio de Janeiro apresentou uma nova denúncia criminal contra os líderes do esquema que envolveu a GAS Consultoria. O documento, ao qual o Portal do Bitcoin teve acesso, detalha a intensa participação de Eliane Medeiros de Lima como principal agente de lavagem de dinheiro para Glaidson Acácio dos Santos, o “Faraó do Bitcoin” e a sua companheira Mirelis Yoseline Diaz Zerpa.

Segundo os promotores, Eliane, por meio da empresa GLA Serviços e Tecnologia, intermediava a negociação de criptomoedas com a WS Brasil “dissimulando a origem real do dinheiro, que seriam os recursos captados pelo GRUPO GAS com a promessa de retornos fixos e exorbitantes”.

Eliane é acusada dos seguintes crimes: operar uma atividade financeira sem devida autorização, gerir de forma fraudulenta uma instituição financeira, integrar organização criminosa e lavagem de dinheiro.

A denúncia afirma que Eliane e Handerson Gomes Pinto agiram como “sócios do braço financeiro do grupo comandado por Glaidson” e que a acusada “exerceu importante status e braço da engenharia financeira do esquema criminoso”.

Criação da Cointrade

A denúncia do MP afirma que Eliane criou a exchange Cointrade para ter o grupo ter maior autonomia financeira nas negociações de criptomoedas.

“Eliane Medeiros de Lima e outros sócios fundaram a empresa COINTRADE, a qual funcionou como uma Exchange encarregada pela custódia e transferências de criptomoedas do GRUPO GAS (Glaidson Acácio dos Santos – GAS), enquanto Glaidson atuava na empresa de Eliane por meio de seu testa de ferro Handerson Gomes Pinto, que nessa condição ‘testa de ferro’ tornou-se sócio-majoritário da Exchange, atuando a mando de Glaidson com a concordância de Eliane”.

O MP diz ter provas que Eliane recebeu R$ 324 milhões entre julho de 2019 e dezembro de 2020, sendo a segunda pessoa que mais recebeu recursos de Glaidson — ficou atrás apenas da esposa dele, Mirelis.

Além disso, a empresa de Eliane teria atuado como responsável pela remessa e recebimento de valores da GAS Consultoria para o exterior por meio de criptomoedas, com a intermediação da sociedade empresária OWS BRASIL INTERMEDIAÇÃO LTDA.

As acusações seguem: Eliane teria vendido formalmente 50% das ações da Cointrade para Handerson, “plenamente ciente” que este agia como laranja de Glaidson.

Também afirma que a acusada adotou uma política deliberada de não realização de compliance em sua exchange Cointrade, atraindo para a sua empresa pessoas interessadas em negociar criptoativos cuja origem era de dinheiro supostamente ilícito.

“Eliane Medeiros de Lima, nesse cenário, é o centro da teia de movimentação financeira a sustentar importante engrenagem para que a organização continuasse movimentando uma elevada quantia de ativos financeiros, dando sobrevida à atividade criminosa de sua organização, gerenciando empresas, inclusive no exterior”, afirma o MP.

Prisão de Eliane

A Polícia Federal prendeu Eliane no dia 3 de fevereiro em uma operação realizada no Mato Grosso Sul.

Foi autorizada a busca e apreensão de documentos, valores em dinheiro e HDs. Além disso, o texto cita a possibilidade de a polícia apreender carteiras de criptomoedas e as seeds que dão acesso ao conteúdo da carteira.

A prisão faz parte da operação Valeta, que é um desdobramento da Operação Kryptos, que prendeu no ano passado o Faraó do Bitcoin Glaidson dos Santos.

Em nota divulgada à imprensa, a PF afirmou que a ação visa desarticular uma organização criminosa responsável por fraudes bilionárias envolvendo criptomoedas.

De acordo com o órgão, investigações revelaram que uma advogada responsável pela administração de empresas com sede em Campo Grande (MS) intermediava movimentações financeiras entre a principal empresa investigada na Operação Kryptos — o que sugere ser a GAS Consultoria — e empresas estabelecidas no exterior.

Caso GAS Consultoria

O negócio da GAS Consultoria consistia em oferta de investimentos em supostas operações com criptomoedas cujo rendimento prometido era na casa dos 10% ao mês. A CVM viu indícios de crime contra a economia popular e denunciou a empresa ao Ministério Público que deu andamento no processo.

A GAS Consultoria parou de pagar seus clientes, alegando impossibilidade pelo fato de a Justiça ter ordenado o bloqueio de R$ 38 bilhões em ativos da empresa. A Operação Kryptos foi deflagrada em decorrência de denúncias da CVM e Ministério Público. Em sua primeira batida, encontrou na casa de Glaidson várias malas de dinheiro, carros de luxo, jóias e 591 bitcoins.

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