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AutiBank: em disputa por clientes, empresa suspeita de pirâmide chegou a igualar promessa de lucro do ‘faraó dos bitcoins’

Segundo consultores, grupo comandado pelo niteroiense Yuri Medeiros Correa perdeu investidores para a GAS Consultoria, de Glaidson Acácio dos Santos

RIO — A promessa de rendimento fácil, muito acima dos oferecidos pelo mercado, fez com que duas empresas suspeitas de praticar pirâmides financeiras entrassem numa espécie de disputa comercial no Rio. Segundo consultores ouvidos pelo GLOBO, o AutiBank, de Yuri Medeiros Correa, réu por estelionato na Justiça do Ceará e alvo de investigação no Rio, vinha perdendo clientes para a GAS Consultoria, de Glaidson Acácio dos Santos, o “faraó dos bitcoins”, preso em agosto do ano passado pela Polícia Federal. O motivo da mudança era o lucro mensal bem maior assegurado pela GAS, de 10% sobre o montante aportado, obtido mediante supostas transações com criptomoedas. Já o AutiBank, que atua convencendo pessoas a tomarem empréstimos e repassarem ao grupo, costumava trabalhar com um rendimento cinco vezes menor, de 2% ao mês.

— Virou uma coisa relativamente comum, vínhamos perdendo muitos clientes. As pessoas mandavam mensagem dizendo que estavam colocando o dinheiro na GAS. Então, a estratégia da empresa, comunicada pelos gerentes em reunião, foi permitir os mesmos 10% de rentabilidade, mas só em alguns casos específicos, para determinados tipos de investidores: aqueles que aportavam valores maiores, e de recurso próprio, sem ser via empréstimo — detalha uma consultora, responsável por clientes no Rio e em São Paulo, em uma carteira de cerca de R$ 800 mil.

Embora nem todos os empregados do AutiBank ouvidos pelo GLOBO tenham recebido as mesmas orientações, outros dois consultores forneceram relatos similares. Um deles atuava majoritariamente na capital do estado, enquanto o outro intermediava o investimento de clientes de Niterói e da Região dos Lagos, onde fica Cabo Frio, cidade que funcionava como uma espécie de base de operações da GAS Consultoria.

De acordo com os funcionários, os responsáveis pelo AutiBank viram uma oportunidade se abrir quando o “faraó dos bitcoins” foi preso, em uma operação que também ocasionou a interrupção de todas as atividades da GAS Consultoria. Desta vez, a estratégia, conforme contam os consultores, foi conceder rendimento maior aos clientes oriundos da empresa de Glaidson, fossem os que conseguiram recuperar valores ainda antes da derrocada, fossem os que, mesmo com contratos suspensos e pagamentos pendentes, tentavam contornar o prejuízo aderindo a um novo esquema similar.

— Eu não cheguei a pegar nenhum investidor da GAS, mas sei de colegas que conseguiram, porque a gente conversava. É claro que àquela altura nenhum de nós imaginava que o AutiBank pudesse ser um grande golpe, mas chamou a atenção ver pessoas com centenas de milhares de reais a receber fazendo novos aportes igualmente enormes conosco. Eles pareciam dispostos a correr riscos — lembra um dos consultores com quem o GLOBO conversou.

Não há notícias de que a GAS tenha feito qualquer movimento relativo ao AutiBank, que entrou no mercado, no início de 2020, quando a presença do “faraó dos bitcoins” já estava consolidada. Para a Polícia Civil, porém, Glaidson Acácio dos Santos não tinha uma relação das mais pacíficas com a concorrência. O ex-garçom e outras cinco pessoas são réus pela tentativa de homicídio contra Nilson Alves da Silva, o Nilsinho, ocorrida em 20 de março do ano passado.

O crime aconteceu no bairro Braga, em Cabo Frio. A vítima, que também atuava no ramo de criptomoedas, estava ao volante de um BMW X6 avaliado em mais de R$ 600 mil, quando o carro de luxo foi alvo de vários tiros disparados pelos ocupantes de um outro veículo que emparelhou. A investigação da 126ª DP (Cabo Frio) apontou que Glaidson encomendou a morte de Nilsinho porque o concorrente “espalhou a notícia” de que ele seria preso pela PF, o que de fato ocorreu meses depois.

Além disso, segundo a denúncia do Ministério Público do Rio (MP-RJ), o crime também foi motivado “em razão do potencial da vítima Nilsinho para diminuir a quantidade de clientes da GAS, o que levaria o denunciado Glaidson a prejuízos financeiros que poderiam chegar à casa de milhões de reais”. Os mesmos criminosos que teriam disparado contra Nilsinho, assim como o ex-garçom, foram indiciados ainda pelo assassinato de Wesley Pessano Santarém, de 19 anos, executado em São Pedro da Aldeia, também na Região dos Lagos.

O rapaz era influencer e sócio majoritário da Ares Consultorias e Investimentos, outra empresa presente no setor de criptomoedas. Ele tinha mais de 124 mil seguidores no Instagram, onde se apresentava como “trader” do mercado financeiro. Wesley foi morto quando chegava para cortar o cabelo, dentro de um Porsche avaliado em mais de R$ 440 mil.

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